Num trabalho pioneiro, mesmo não tendo a pretensão de um Barão de Tefé, que descobriu a nascente do Rio Jarí na floresta amazônica, o engenheiro agrônomo e fiscal federal de acidente de trabalho, Antonio Carlos Avancini, natural de Itapira, esteve à frente de atuantes membros da Associação Itapirense de Pescadores (AIP), para descobrir o local exato da nascente do rio do Peixe.
O Município viu as primeiras notícias sobre essa viagem no jornal Tribuna de Itapira, que falava sobre a reunião que a AIP estava realizando para organizar essa procura. Através dele entramos em contato com Avancini, para conhecer os resultados da viagem.
AAIP foi fundada em 1997, com o objetivo primeiro de combater a pesca predatória. Como em Itapira não existia nenhuma entidade voltada ao meio ambiente, os objetivos foram sendo acrescentados, para incentivo à pesca de Jazer, repovoamento do rio, plantio de árvores na mata ciliar, proteção aos mananciais e outros, sempre voltados para a água e rios. A associação filma e edita fitas sobre os mais diversos assuntos relacionados à proteção dos rios, passando as depois em escolas de ensino fundamental e particulares, com palestras e fotos, para conscientizar as crianças sobre a importância de preservar a natureza.
O rio do Peixe que, assim como em Socorro, cruza Itapira, é o principal afluente do rio Mogi-Guaçu. Avancini conta que ele é altamente piscoso, e já foram pescados dourados com 8 quilos, e não existia nenhuma informação sobre sua nascente distância e outros dados, havendo apenas uma suspeita de que a nascente estava próxima à cidade mineira de Senador Amaral.
A aventura começou no dia 13 de janeiro, às 5h30 da manhã. Percorreram 100 km, até chegarem a Munhoz. Uma foto de satélite da bacia do rio Mogi-Guaçu mostrava duas micro bacias naquele município. O pessoal conversou com as pessoas mais antigas do local e, com base nessas informações e nas fotos do satélite, optaram por seguir para o lado direito, no sentido de Senador Amara!, uma cidade com 5 mil habitantes, recentemente emancipada de Cambuí.
A intuição estava correta e às 12 horas encontraram a nascente, a 1560 m de altitude, encravada na Serra da Mantiqueira. Nasce com o nome de Ribeirão Fundo, une-se com o Rio da Corrente, passando a se chamar Rio da Corrente até a divisa com Socorro, onde recebe o nome de Rio do Peixe. Um fato Curioso é que no local existia um grande lago, hoje um terreno de charco (local com: vegetação aquática e brejosa), com cerca de 5 km de comprimento por 5OOm de largura. Dessa vegetação igrófita vai aflorando água, descendo por gravidade, até formar um leito de água corrente no final do charco. Nasce o rio do Peixe!
O que chama a atenção é que desse charco, no sentido contrário, ao sul, também nasce outro rio, que vai formar a bacia do rio Sapucaí. Esse é um fato muito raro de acontecer. Apenas em três lugares do mundo uma nascente dá local para dois rios distintos: na Groenlândia, em Goiás e, agora, em Senador Amara!. O rio do Peixe tem 130 km de comprimento, da nascente até à foz no rio Mogi-Guaçu.
Avancini, presidente da ,AlP diz que, ficou feliz a descoberta mas, por outro lado, muito triste, porque a degradação no local é bastante grande. Uma nascente deve estar, protegida pelas leis ambientais e um: loteamento de chácaras no local é preocupante, além do excesso de agrotóxicos de lavouras de batata e morango. A cabeceira de dois rios, fato raríssimo, não pode estar nessa situação. A fita e fotos do local serão encaminhadas para o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu, para que as autoridades possam tomar providências para proteger essa nascente. A filmagem de Socorro até a foz será feita num segundo momento, e a data desse evento ainda não está definida.